ardes-me

ardes-me

22/02/10

Solta-me as mãos


Solta-me as mãos



E deixa livre o meu coração!


Deixa que os meus dedos percorram


Os caminhos do teu corpo.


A paixão – sangue, fogo, beijos –


Incendeia-me em labaredas trémulas.


Ai, tu não sabes o que é isto!


É a tempestade dos meus sentidos


Dobrando a selva sensível dos meus nervos.


É a carne que grita, com suas línguas ardentes!


É o incêndio!


E está aqui, mulher, como um tronco intacto.


Agora que a minha vida feita de cinzas voa


Até ao teu corpo cheio, como a noite, de astros!


Deixa-me livres as mãos


E deixa livre o meu coração!


Só te desejo a ti, a ti só desejo!


Não é amor, é um desejo que se esgota e que se extingue,


É a precipitação de fúrias, aproximação do impossível.


Mas tu estás aí.


Estás para me dares tudo,


E para me dares o que tens, à terra vieste –


Como eu, para te ter


E te desejar,


E te receber!



Pablo Neruda
 
 
"...e depois agarra-me novamente e não me soltes jamais."

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